UM POTE CHEIO DE MIM

Quem dera eu ser um doce, saberia o gosto que se tem, quem dera eu ser o mel, sentiria-me escorrer em seus lábios. Na verdade, meu sabor nem sempre é tão constante. Mas se um dia fosse um chocolate, seria eu o meio amargo. Se um dia fosse um brigadeiro, não teria eu nenhum granulado. Se um dia me tornasse um sorvete de morango, estaria eu bem derretido.
Resolvi tentar descobrir o meu sabor, mas nem eu me consegui, juntei meus melhores sabores num pequeno pote, mas experimentar de mim só você quem pôde. Outras pessoas trataram-me como petisco, mas só você deu sabor a minha vida, foi com você que descobrir o gosto de ser feliz. Seu lábio encostado no meu, era doce com doce, mel de mel. Juntos poderiamos ser a cereja dos sorvetes.
Mas tudo quando vai tão bem, não vai nada bem, é só questão de tempo para começar a amargar. Minha validade venceu, fui jogado fora, sem haver nenhum diálogo, você se afastou de mim. Mas foi nessa amargura que aprendi a me reciclar. Sem sal, sem doce, enfim, minha vida não tinha gosto, amargura eu não considero gosto. Eu tinha perdido seu sabor em meu lábio. A vida ficou o mais puro sal dos mais fundos oceanos, meus sentimentos ardiam como pimenta pura. Meu olhar era como constante gosto de limão.
Mas eu não desisti de ser feliz, não será um doce amargo recheado com desprezo que irá me derrubar. Resolvi mudar, depois de tanto tempo sem gosto já me sinto preparado, quero experimentar novos sabores da vida.
Vou pedir pra me embalar, já me defini, já me renovei, inovei minha mente, preparei meu coração, mudei minha fórmula, enfim quero novamente alguém pra amar. Me sinto livre e com data de validade prolongada, entrei num pote bem transparente, fechado, mas agora com bastante ar para respirar, ainda não sei ao certo o meu sabor, também não é minha função descobrir, quem quiser um pote cheio de mim é quem terá de provar meu novo sabor. Se vai gostar e aprovar eu não sei, apenas de uma coisa sei, minha boca nunca mais amargará, quando enfim esse amor eu encontrar.