MOMENTANEAMENTE INDIFERENTE

Dizem que o amor não avisa quando irá chegar, em parte, é verdade, mas as vezes ele demora tanto que agente acaba perdendo a paciência. No papel o amor é: "paciente, é bondoso; o amor não é invejoso, não é arrogante, não se ensoberbece, não é ambicioso, não busca os seus próprios interesses, não se irrita, não guarda ressentimento pelo mal sofrido, não se alegra com a injustiça, mas regozija-se com a verdade; tudo desculpa, tudo crê, tudo espera, tudo suporta."
Será? Talvez sim, a bíblia não contém falhas, nós é quem sempre falhamos, não somos tão perfeitos a ponto de amar divinamente. Mas humanamente falando, é difícil cumprir a descrição do amor. Nós, no nosso egoísmo natural, sempre buscamos preferencialmente nosso próprio interesse, depois disso, é que buscamos o bem do outro. Na verdade é algo robótico ou automático, apenas percebemos isso quando o amor já está em apuros. Amar não é tarefa fácil, se assim fosse os sentimentos seriam sem graça, sofrer faz parte, chorar é natural, amar sem dor não seria amor.
Momentaneamente indiferente estou, sem coragem de amar, mas com grande sede de tentar. Sem querer me apegar, mas com vontade de querer, cada flechada que o cupido me atira eu tento me esquivar, as vezes ele acerta, mas logo faço um curativo, não deixo sangrar paixão, por que se não, nasce um rio de amor. Quando o cupido atira, ele mira dois alvos, esse é o tal problema, não quero me apegar, ou que se apeguem a mim. Fujo de tais sentimentos, pra não ver ninguém mais sofrer, faço o bem sem querer bem, é assim que vou vivendo, fugindo de paixões e me escondendo de amores, emprestando meu coração, mas o pegando de volta logo.
Espero logo que uma grande flecha me acerte, e que eu não tenha forças pra arrancá-la, momentaneamente quer dizer que isso logo vai passar, o medo ou incerteza de se apaixonar não vão perpetuar. Indiferente é por causa do meu eu, não tenho medo de sofrer, dificilmente acontecerá de novo, mas o medo é fazer alguém sofrer, até mesmo emprestando o coração, já vi lágrimas descer, tento não criar laços, pra nenhum nó nascer, meu coração vai com durex, é bem mais fácil de puxar. Mas quando essa fase passar, o colarei com algo forte, impossível de arrancar, vou esperar alguém me provar que vale a pena se arriscar, deixar o cupido trabalhar, sem cortar suas azinhas, mas enquanto isso não acontece, continuo na minha vidinha, sem amar mais ninguém pra não ser amado, é uma definição complicada e triste do meu ser, até mesmo meu caráter implica comigo, mas é culpa do amor, o coração ainda não desocupou totalmente de outros aluguéis, o que posso fazer é apenas dizer que não sou mal, se assim fosse, haveria muitos corações jogados e maltratados pelo meu, sou apenas um defensor do amor, protejo o coração das mulheres os deixando longe de mim, momentaneamente apenas. Mas quando o pensamento mudar, as atitudes mudarão também e não será mais indiferente. Isso não está longe de acontecer, o cupido está ficando esperto, tem me atingido fortemente, tento resistir, mas ele traça bem suas estratégias, uma hora vou me render, é só questão de tempo, mas enquanto isso, fico aqui lutando contra uma força que não se vence, ativo numa batalha impossível de ganhar, a luta contra o amor. Que vença o melhor e que esse melhor seja o amor. Ainda haverá algumas batalhas, a guerra ainda não vai acabar, infelizmente o cupido ainda não venceu. É sim, eu falo infelizmente, porque na verdade quero perder essa guerra, pois sei que minha vitória será essa derrota. Então vou aguardar, esperar a poeira baixar, enquanto isso acontece, não escondo como estou, momentaneamente indiferente.